18 de setembro de 2014

Entre o livre-arbítrio e a História

Pretendendo retomar as publicações no blog, aventuro-me a apresentar um livro que também foi retomado. Muito reverenciado nos países de língua inglesa, em especial no contexto da literatura dos Estados Unidos, Philip Roth é autor de "Indignação", livro denso que nos surpreende ao mostrar o quão subversiva pode ser a cultura norte-americana.

A história do jovem Marcus Messner, judeu, filho de um açougueiro kosher que tem como único intuito ingressar na universidade a fim de se manter imune à convocação militar para a Guerra da Coreia, que se desenrolada naquele início da década de 50.

Vivendo na provinciana Newark (Nova Jersey), apresentada como um reduto de imigrantes que aproximava judeus, italianos e irlandeses, Messner inicialmente ingressa na universidade local. Porém, atritos familiares levam-no a buscar uma alternativa mais distante de casa, a Universidade Winesburg, no interior de Ohio, marcado por um intolerante protestantismo.

É no tradicionalismo do Meio-Oeste norte-americano, em oposição ao relativo progressismo que a proximidade com Nova York conferia a Newark, que Messner vai encontrar conflitos ainda maiores do que aqueles que o distanciaram de casa. Tais conflitos somados às descobertas amorosas e sexuais com as quais o jovem terá de conviver conduzirão Messner a um caminho sem volta. Aqui começa a contribuição decisiva de Olivia, jovem com distúrbios psiquiátricos e tendências suicidas.

Magistralmente tecido pelo ganhador do prêmio Pulitzer de 1997, "Indignação" retoma uma temática muito cara a historiadores como Eric Hobsbawn: a História não é o pano de fundo de nossas vidas, a História é o palco. O desafortunado Messner teve a infelicidade de tomar decisões incorretas (embora elas não se denunciassem como tal) em um momento histórico também desafortunado: a guerra.

ROTH, Philip. Indignação. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.